Raul é bom mesmo em matemática. “Quanto é dois mais três?”. Aponta os dedinhos: dois de um lado com três do outro. Raspa a pontinha deles no queixo e vai mentalizando. Um arqueado de ombro e um sorriso de conquista no canto da boca precedem a resposta dada num “cinco” entremeado de orgulho.
Da escola traz um aprendizado tão saboroso quanto o apanhado nos dias de feira, ao lado da mãe na barranca vizinha ao peixeiro. Eles vendem queijo. Não há quem não tenha em sua memória o caminhar tranquilo de Raul por entre os corredores, seja no pastel do Cemi, na coxinha do fundo do pátio ou mesmo no frescor das verduras até matar a sede com a garapa docinha.
Raul e seus dedos vão fazendo parte da história da feira dos produtores rurais de Muriaé/MG, ao lado do rio que um dia foi gostoso de peixe e de nado. Ainda é novo para saber a importância das mãos daqueles homens e mulheres do campo, que há anos, abastecem a cidade com alimentos e histórias de luta.
Aos poucos, o pequeno Raul vai construindo a sua própria memória. Seja com os dedinhos, brincadeiras e vivências.
“Quais as letras formam seu nome, Raul?”.
Nem precisou pensar. Jogou os ombros para o alto, olhou confiante nos nossos olhos e disse: “R, A, U, L. Fica Raul”.