Zé Congonha era daqueles incansáveis. Sua vida era acordar de madrugada para amassar farinha no Serro/MG. Quem no Serro nunca comeu um pão feito por ele? Todo mundo ou quase o mundo todo. Por isso, chegou o dia em que os braços sozinhos do padeiro não foram mais suficientes.
Por insistência, naquele tempo, resolveu atender o pedido de sua menininha. Num dia de neblina fria, acordou cedo e a levou. Radiante, ela seguiu pelas ruas com as mãozinhas macias e o olhar de amor pelo pai.
No fundo da padaria escura, Zé Congonha se apressava. O dia ia raiar e as casas logo se abririam em fumaça cheirosa de café à espera do seu pão.
Por um instante, parou, olhou para o lado e viu sua filhinha, de apenas 10 anos, lhe derretendo o coração com um olhar pedinte. Arrumou um caixote e fez de escada para a pequena alcançar a altura.
Em instante, o monte de farinha à frente de Zé Congonha foi molhando. Eram as lágrimas de orgulho e carinho do velho padeiro ao ver aquelas mãos pequeninas repetindo seu gesto de amassar a massa.
Passaram-se 70 anos. A menina Dodoia ainda guarda o mesmo sorriso que encantou seu pai naquela madrugada da primeira fornada que fizeram juntos.
Zé Congonha já se foi, mas como patrimônio do Serro, nos deixou o encantador sorriso doce de sua menininha, Dona Dodoia.