Philipe é o moço do rolê. Carrega no sangue catrumano a resistência do sertão, um sorriso torto e farto e a mente ativa. A casca grossa e amorenada leva antenas imaginárias apontadas para os sinais de igualdade emitidos pelo planeta.
Nasceu no centro dele, Bocaiúva. Neto de Maria Aparecida, mulher que carregou nos braços cheiros, segredos, descobertas, carinhos de muitos. Sem perceber, dela, Philipe levou o dom de ouvir histórias, verdadeiras ou fantasiosas. A prova do dito não importa quando no fundo, ao se embebedar pelo ouvido, se quer mesmo é florear o devaneio.
Escolhido para povoar Montes Claros, ele sonha com um planeta livre, igual e sobretudo, feliz. Onde seu sorriso possa surgir leve por entre a barba a lhe pintar de branco – ano a ano – o rosto moreno.
Quando lhe chega ao ouvido um trecho de prosa a lhe confirmar raízes, Philipe chora pelo canto do olho. Como se a lágrima da emoção de ser da terra dos negros catopês lhe afagasse o rosto em carinho de sossego.
O moço vai seguir roletando pelo sertão de concreto do Arraial das Formigas. Ensinando o beabá aos idosos, enamorando-se pela cicatrizes deixada na história dos maduros, fitando com formosura os encantos da juventude e brincando de mudar o mundo com a singeleza de uma criança.
Catopê, maconheiro, lágrima de cantiga.
Artista, sapiência, sorriso de rapariga.
Philipe é algo necessário nesse mundo onde cada vez menos a gente se entronca. Nesse ser planetário, a gente vai depositando esperança.