Muita gente se surpreende com um espanto alegre quando escuta o nome do projeto: “Moradores – A Humanidade do Patrimônio”. Por outro lado, nós nunca tivemos a oportunidade de contar como essa alcunha surgiu.
Não é tarde para revelar. Esse batismo aconteceu a partir de uma poesia. Escrita na chegança de uma noite de fevereiro de 2012, na calçada de esquina, numa mesa de bar, em Tiradentes, Minas Gerais.
Caderneta de capa preta, e páginas envelhecidas. Aberta ao lado de um copo lagoinha, suando gotas. Em volta dela, rapazes de apelidos Xande, Prents, Gustavão e Kilha. Tentavam se explicar em palavras o êxtase vivenciado, horas antes, após o inaugural dia de tenda branca montada numa praça. Ali haviam escutado as primeiras histórias de moradores, para em seguida, fotografarem seus rostos.
Goles gelados molhavam palavras. Manchas de líquido num semicírculo marcavam o canto de uma página, onde estavam rabiscados nomes imaginados e abandonados anteriormente. A caneta começou a deslizar, à medida do acender de lamparinas no Largo das Forras.
Minutos, suspiros, silêncios e linhas. A última palavra foi escrita pelos quatro camaradas. A caderneta foi erguida, com a poesia, sem rima, beira ou métrica. Pronta e definitiva. Foi dada a ela o nome “Moradores – A Humanidade do Patrimônio”.
Celebrando esse 20 de outubro, e como forma de dizer “parabéns” a todas as poetas e os poetas de versos, vidas e memórias, repetimos aqui a poesia madrinha do nosso projeto de andanças por ouvir e contar histórias das gentes.
“Não fala por sinos
Não se veste de eiras e beiras
Não pisca por lamparinas
Não se pinta de barroco
Não se mostra em adros ou torres
Não nasce do ouro
Não cresce só morro
Não acaba no beco
Nunca completará 300 anos
Como encontra-los?
Olhando em seus olhos”