Certas delicadezas da vida sempre insistem em ficar pelo caminho. Perdem-se da rota traçada, mas ao contrário do imaginado, não se tornam menos importante.
Algumas pessoas são assim: delicadezas. Escolhem abandonar o belo destino sonhado para se tornarem pedra no meio do caminho.
Marcio Morais é uma dessas pedras preciosas que escolheram parar antes mesmo de querer partir. Para uns, é apenas pedra. Para outros, de olhar mais precioso, ele é joia rara. Ainda mais numa cidade como Mariana, onde o falso desenvolvimento engole diariamente gordas fatias de sua identidade cultural.
Marcinho é a pedra preciosa chamada “porra louca”. Com suas cabeleiras longas, grisalhas e um sorriso quase invisível, daqueles que parecem estar no fundo da retina e não nos lábios, como o é nos comuns.
Dos Morais, foi um dos poucos que resistiu e fincou pé na cidade que fez de tudo para varrer sua família para bem longe. Se por fraqueza ou fortaleza, não se sabe, mas por lá ficou.
Quis o destino que Mariana também ficasse parada no tempo, como as pedras do caminho e assistisse calada os outros mineiros lhe transformarem em apenas um pontinho quase esquecido, para o qual pouquíssimos olham de verdade.
Como uma velha cansada, decadente e falida, Mariana finge uma pose que já não lhe cabe há 300 anos. Decrepita, tenta esconder todo seu ódio por Marcio Morais.
Seria mais bela e justa se ajoelhasse, chorando e pedisse perdão por sua soberba, pois verdade seja dita, hoje, só é vista como linda e importante exatamente pelas pedras esquecidas pelo caminho. Joias que mesmo tratadas como estorvo, ainda são capazes de amá-la.
Salve, Marcio Morais, a pedra preciosa que, durante a passagem do Projeto Moradores por Mariana, mais magnificamente demonstrou merecer a alcunha de patrimônio vivo da terra que lhe quer esconder como poeira.